O que seria melhor do que um pouco de fugir da realidade no começo desse domingo quente? O surreal intimida quem o vê, lê, ouve. E quero muito disso hoje, quero ficar mais confusa do que já estou. Como já ouvi diversas vezes que a pessoa aprende mais ensinando. Quero vos mostrar o que conheço desse vasto mundo que está além das fronteiras.
Para começar, quero falar da minha querida Kahlo. Uma artista única, cheia de conflitos e seduções. Teve uma história de vida repleta de tragédias: Com seis anos, ficou coxa por conta da poliomelite. Logo depois, após um acidente, permaneceu presa em uma cama.
"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque
sou o assunto que conheço melhor"
Frida Kahlo
Frida sempre pintou a si mesma, e todos seus conflitos eram traduzidos nas imagens.
"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei
minha própria realidade"
Frida Kahlo
Outro ser que faz maravilhas, é o Zdzislaw. Desde fotografias, desenhos e até pinturas, ele consegue tirar horrores de sua mente. Deliciosamente perturbador.
Um artista pôlones carrega uma criatividade sombria que realmente inquietam o ser. Vou parar de escrever um pouco e deixar que vocês sintam um pouco do seu hálito congelante.
Agora vou contar de um que realmente me faz muito bem, Dave Mckean.Conheci sua arte na HQ Sandman, que é do que se trata meu próximo post. Ele é fantástico!
Então, meus jovens, aguentaremos injetar mais um pouco da realidade abstrata?
Da literatura surreal, podemos destacar o adorável Cesariny,"figura sempre inquieta e questionadora":
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Continua.